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Brincar – o passaporte para um crescimento saudável!

Cresci brincando no chão entre as formigas. De uma infância livre e sem comparações. Eu tinha mais comunhão com as coisas do que comparação. Porque se falamos a partir da experiência da criança, fazemos comunhão: de um orvalho e a sua aranha, de uma tarde e as suas graças, de um pássaro e a sua árvore. Então eu trago das minhas raízes crianceiras a visão comungante e oblíqua das coisas (Barros, 2003, p. 34).

Nós não nos afastamos de nós próprios. Transportamo-nos para as conceções que temos de infância, da criança e da educação. Buscamos lá do passado, a nossa própria infância.

Também eu cresci a brincar no chão, a brincar entre as formigas e as folhas que caiam nos ribeiros e se transformavam em barquinhos. Comi maçãs das árvores que cresciam para o céu, e nozes cujas cascas se transformavam em casas pequeninas onde punha essas formigas a viver. Mas elas depressa se fartavam e iam para outros sítios. Eu também mudava de sítios para brincar e as nozes, de casas passavam a ser barquinhos no rio.

Brinquei às cozinhas na natureza, onde as pedras eram umas vezes ovos, outras vezes batatas, as plantas arroz e o que a imaginação permitisse, e permitia muito. Brinquei às fadas, inventei histórias a olhar para as nuvens e tomei muitos banhos no rio. Escorreguei nas cascas das árvores, rasguei as calças e feri joelhos e pernas vezes sem conta. A recordação mais forte que tenho da minha infância é brincar, brincar muito, com tudo.

Durante o meu percurso académico reforcei e aprofundei a ideia de que brincar na infância é realmente importante no desenvolvimento da criança. Enquanto profissional da área da educação, um dos aspetos que sempre dei importância e espaço na minha prática foi o tempo da brincadeira pois brincar é uma ferramenta fundamental no desenvolvimento.

As crianças precisam de brincar para aprender! As crianças precisam de brincar para serem felizes! De acordo com Ferland, brincar é um poderoso motor no desenvolvimento da criança e apesar de diferentes – a brincadeira e a aprendizagem – são conceitos que se interligam profundamente.

A brincadeira é um instrumento dinâmico que dá prazer, relaxa, envolve, ensina regras, linguagens, desenvolve habilidades e a imaginação. Segundo alguns investigadores, ao brincar a criança envolve-se em vários processos que a levam à aprendizagem que por sua vez, é vista como o processo pelo qual o comportamento de um organismo é modificado pela experiência, sendo o principal mecanismo para o desenvolvimento. Neste sentido, a brincadeira é reconhecida como um instrumento dinâmico que potencia o desenvolvimento, a aprendizagem e o crescimento, permitindo à criança a descoberta de si, dos outros e do mundo que a rodeia.

Como promover um ambiente positivo promotor do brincar?

Sabiam que brincar é um direito? A Convenção dos Direitos das Crianças (1989) reconhece explicitamente o direito da criança ao descanso, ao lazer e ao brincar. Apesar de ser algo inato e natural nas crianças, nós enquanto adultos podemos criar oportunidades e dar espaço para que a criança brinque, crie os seus próprios desafios e assim cresça de uma forma saudável e harmoniosa pois ao brincar, ela mobiliza todos os seus conhecimentos.

  • Criação de espaços de brincadeira

Em casa, num cantinho ou num quarto, ou mesmo no espaço exterior pode-se construir um espaço de brincadeira. Negociar com a criança que brinquedos vão estar nesse espaço, como é que esse espaço vai estar organizado, as regras de utilização dos brinquedos e como vai ser feita a consequente arrumação.

A arrumação pode ser um jogo e é algo bastante importante, pois responsabiliza, dá autonomia e confiança para a criança.

  • Brincadeiras no exterior 

Em que as crianças exploram livremente o espaço e os objetos naturais inseridos na natureza. Caminhadas em família na natureza, idas ao parque, à praia ou ao quintal dos avós são boas opções para que as crianças aproveitem ambientes educativos ricos em estímulos e desafios.

Muitas vezes os adultos (com medo que a criança não distinga o real da fantasia) corrigem a criança nas suas interações fantasiosas, em que ela faz de conta que é outra pessoa e atribui caraterísticas mágicas a objetos ou brinquedos do quotidiano. O faz de conta ajuda a que a criança desenvolva competências de empatia, de resolução de problemas, ao mesmo tempo que estimula a criatividade.

  • Deixem as crianças brincar com os seus amiguinhos!

Proporcionem momentos em que as crianças possam estar com outras crianças (seja com amigos da escola, primos ou filhos de amigos). Esse contacto é saudável e faz parte de um crescimento harmonioso.

  • Brinquem com as crianças!

Existem vários especialistas que defendem que os pais não devem brincar com as crianças, que estas devem brincar com outras crianças. Eu considero que é bastante positivo os pais brincarem com as crianças.

A brincadeira é uma forma da criança explorar o mundo exterior e interior, de se relacionar com o outro. Considero fundamental observar as brincadeiras com olhos de adultos, mas criar envolvimento com o coração de uma criança, sentar no chão, imaginar e alinhar nas brincadeiras do seu filho/a.

As crianças comunicam muito de si nas brincadeiras que têm, a interação através do brincar é um passaporte para conhecer melhor a vida duma criança.

Sofia Mendes (educadora e professora do 1.º Ciclo)

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