Brincar ao faz de conta
São dez da manhã e no número 10 da Rua de Camões já se realizaram 5 partos, já se arrancaram 3 dentes. Já se foi à lua num foguetão feito de caixas de cartão e já se mergulhou no pacífico em busca de navios afundados. Ontem fomos piratas. Daqui a pouco seremos bombeiros. Neste momento um gato! Não, esperem … afinal é um dinossauro!!
Como é bom ser criança. Somos tudo aquilo que sonhamos, temos um mundo inteiro enfiado numa sala, no quarto ou no jardim.
Quantos de nós pais já bebemos chá imaginário numa caneca a fingir? Quantos já fomos para a rua e ao abrir a mala encontramos a receita da Dra. lá de casa? E a alegria que nos trás um receituário de beijinhos e abraços dos filhos mais lindos do mundo: os nossos ❤️❤️.
Quando começa o faz de conta?
Por volta dos dois anos de idade e, à medida que o nosso bebé se transforma numa criança autónoma, (já sabe falar, mais ou menos, consoante os miúdos) já consegue estabelecer ligações entre as suas próprias ideias e o mundo que a rodeia, as suas brincadeiras vão se tornando mais complexas e começa a “fase” do faz de conta.
Até aqui a criança brincava com os objectos, explorava, observava. Eram o que eram: os blocos de construção eram apenas blocos de construção, serviam só para construir torres e o mais divertido era destruí-las, agora não! Os blocos brancos são leitinho no biberon da boneca, os verdes são erva para a vaca imaginária que vive na despensa. Na verdade, os objectos e os brinquedos assumem a utilidade que, naquele momento, serve o propósito da criança.
Porquê brincar ao faz de conta?
Aquilo que as crianças fazem de melhor é observar o mundo à sua volta e as atitudes de quem os rodeia. Consequentemente, na hora de brincar, surge a imitação daquilo que vêm, como forma de construção e compreensão. Este faz de conta estender-se-à até… bem até a criança querer. Aumentando a sua complexidade proporcionalmente ao crescimento. Se já sabe ler, treina a leitura e a escrita para os alunos quando é professor/a. Se já sabe contar dinheiro, faz mil e uma transacções no supermercado que montou na sala, ou transferências de dinheiro no banco que está no corredor.
Enquanto pais temos aqui duas hipóteses: ou nos chateamos pela desarrumação ou barulheira que reina em nossa casa ou compramos um bilhete para o comboio imaginário que parte ao meio-dia da nossa sala com destino à praia de São Martinho do Porto…
E agora fico por aqui que já ouço o apito, vou correr antes que perca a viagem…
Huhuhu, Huhuhu!!!! Pouca terra, pouca terra….
Andreia Mendes
imagem: Porapak Apichodilok