Brincar ou planear?
Desde que ficámos em casa que as nossas redes sociais são invadidas com notícias do panorama mundial. Depois, as redes sociais complementam essas notícias mas ganham espaço para tantas outras, assim de repente parece que todas os pais se vêem obrigados a encarnar a pele de uma educadora de infância, de uma professora ou até mesmo de uma animadora. Consomem as inúmeras atividades planeadas, tentam reunir os materiais em casa como se de um exército se tratasse, nada mal, até antes pelo contrário, fazem-no dias a fio, esgotam as hipóteses ou poderei dizer: esgota-se a energia. O cansaço vem à tona, normal, não estudaram para isso, estudaram para fazer aquilo que muitas vezes em simultâneo fazem por teletrabalho.
De repente a casa enche-se de pinturas, de desenhos, de fichas impressas de um site e aquilo que é mais simples, fica por momentos esquecido: deixá-los brincar! Sim brincar, e agora certamente estarão a questionarem-se “mas eles brincam”, sim eles brincam, mas fazem-no sozinhos. E é nesses momentos, acreditem, que vocês muito provavelmente estarão a perder o melhor do crescimento deles. Esqueçam as fichas impressas, as letras e os números, os grafismos! Vai haver tempo para tudo isto, as educadoras e as professoras que também elas estão entregues ao confinamento voltarão cheias de energia e com vontade para lhes ensinar aquilo que não é da vossa obrigação.
A vossa obrigação enquanto profissionais prende-se com o vosso trabalho, não se relaciona com o papel de mãe, esse papel ninguém vos tira. É pago a peso de ouro, cheira a perfume de rosas e sabe a mel e é só disso que as vossas crianças precisam nesta quarentena, atravessamos todos um mar revolto e ainda não temos previsões de quando a tempestade vai acalmar, mas imaginem que trocam as voltas ao nosso inconsciente desanimado e num sopro voltamos ao ativo? O que vão querer que fique na memória dos vossos filhos? Os momentos em que brincaram juntos ou aqueles em que, desesperadas, se tentaram transformar em professoras? Tantas perguntas, uma só resposta, a que está no vosso coração. Brincar, jogar, ler, inventar… aproveitem este tempo precioso que vos deram, a oportunidade única de os ver crescer de perto… o relógio não pára e amanhã eles ainda vão a tempo de fazerem fichas.
Eliana Freitas
Educadora de Infância