Sobre as mães que trabalham
O senso comum manda pensar, com frequência, que uma boa mãe é uma má colaboradora. Há festas da escola para assistir, febres e viroses cuja cura exige o colo da mãe, consultas que levam a sair mais cedo e imprevistos que obrigam a chegar mais tarde.
Não quero com isto dizer que quem tem filhos trabalha melhor que quem não tem, apenas que, regra geral, que quem tem filhos trabalha melhor que antes de os ter. Eles são o nosso melhor projeto, o nosso cliente mais importante e chefe mais exigente que já conhecemos. Acreditam que temos as soluções para os problemas do mundo e contam, todos os dias, com a nossa dedicação máxima. Por motivo algum queremos desiludi-los, o que nos leva a procurar respostas quando não as temos. Mas também sabemos que está nas nossas mãos a sua educação, o que exige bom senso e segurança suficiente para sabermos que ora podemos aligeirar no tom de voz, ora temos que carregar na pena do crime.
Aprendemos a ignorar palpites e ouvir o nosso instinto. Somos profissionais da antevisão de possíveis perigos, riscos e catástrofes e desenhamos planos de gestão de crises como ninguém. Gerimos vários projetos em simultâneo, todos diferentes e importantes, num equilibrio de casa, filhos e trabalho digno de ginastas profissionais. Aprendemos a priorizar. Calibramos a nossa atenção para os detalhes e avaliamos o peso de cada circunstância na globalidade dos acontecimentos. Somos mais práticas, mais focadas na solução e mais criativas na resolução dos problemas.
Somos mais empáticas, lemos melhor o outro, especialmente aquilo que ele não diz. Aprendemos a trabalhar sem ouvir um obrigada e a ver nos sorrisos a nossa melhor recompensa. Crescemos. Mudamos. Aprimoramos competências que levamos para a vida. E fazemo-lo a troco de um salário pago a sorrisos desdentados, abraços desengonçados e beijinhos lambuzados. E amor. Daquele que não se explica nem se mede.
“Sobre as mães que trabalham” por Erica